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Vamos falar sobre codependência afetiva?

Dificuldade em falar não, se sentir responsável pelo outro e otras cositas más


por Tailane Sifuentes



Agente vai chamar de Codependência Afetiva (ou Codependência Emocional) aqui um grupo de características que tornam as relações disfuncionais. É totalmente normal ser um pouco codependente em uma ou outra relação, mais ou menos em diferentes momentos da vida. O ponto é: Como está sua qualidade de vida? Suas relações estão saudáveis, estão te nutrindo, te fazendo bem?

Você tem conseguido dar andamento às suas atividades e objetivos de vida? Quão emocionalmente saudável você se sente?

Depois de pensar tudo isso, como saber se você está mais codependente do que é tolerável?

Codependentes têm uma tendência a se responsabilizarem pelos outros. Com baixa tolerância aos sentimentos dos outros, se sentem mal quando vêem os outros mal, logo procuram fazer coisas que possam livrar o outro dos próprios sentimentos.

As vezes é agradando, cuidando, tentando resolver os problemas alheios;

As vezes é diminuindo o sentimento do outro, ficando bravo pelo outro se sentir mal ou tentando fazer qualquer coisa para que o outro “descubra que não tem nada a ver o outro sentir o que está sentindo e que já pode se sentir bem de novo.”

Não preciso dizer que uma relação assim pode ser bem complicada, não é? Codependentes tem dificuldade de pedirem o que querem, são muito rígidos consigo mesmos e muitas vezes com os outros também. Têm tendência a querer controlar tudo e todos à sua volta, por uma necessidade de que tudo esteja “certo” e que assim, não haverá problemas. Há muito medo que as situações saiam do controle e ele não saiba o que fazer.

Codependentes amam ajudar! Porém as tentativas de ajudar costumam ser muito carregadas de expectativas de reconhecimento. Por isso o codependente sente-se muito chateado ou ofendido quando não é ouvido ou não recebe agradecimentos e honras. Tudo isso porque é assim que ele aprendeu que precisa fazer para se sentir amado e importante para alguém.

Codependentes podem ter a versão “sou forte”, “dou conta de tudo”, tentando sempre manter a imagem que sabem mais, que suportam mais que o outro, por isso precisam ajudar mais e então têm muita dificuldade de pedir ajuda. Frequentemente não percebem que precisam de ajuda ou que estão sobrecarregados.

Eles se tornaram assim porque precisaram. Precisaram dar conta de mais coisa do que aguentavam quando eram crianças, por isso ouviram que amadureceram cedo, mas na verdade não reconhecem que o que aconteceu é que pularam algumas fases e essa criança ainda se encontra aí, precisando de um olhar amoroso e acolhimento.

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Por ter uma natureza perfeccionista, codependentes tendem a se colocar em situações ou relações que precisam de conserto ou que têm muita crítica, reforçando suas crenças de inadequação ou de que precisam sempre mudar algo em si ou nos outros. Têm dificuldade em aceitar a realidade e podem ser ansiosos, depressivos e frequentemente têm algum tipo de compulsão para compensar, seja alimentar, por trabalho (os workaholics), cigarro, bebida, drogas, compras, limpeza, etc.

Codependentes têm dificuldade de receber e relaxar, eles sentem que precisam fazer algo para que mereçam e se sentem sempre em dívida ou em culpa. Por isso também podem cobrar muito dos outros, porque fazem coisas pensando em receber e muitas vezes o que recebem não é o que esperavam e isso alimenta o ciclo de sensação de não merecimento – fazer – expectativa em receber.

Sentem que precisam “salvar” ou resolver a vida do outro e que o outro os farão felizes, mas nada que o outro faça eles sentem como suficiente, porque essa falta é muito pessoal, é do reconhecimento próprio . E aí tendem a ser pessoas ressentidas, se vendo como vítimas, porque doam muito e não recebem o que precisam em troca.

Codependentes podem invadir os espaços pessoais de seus amigos, companheiros ou familiares dando ideias, dicas, sugestões, por medo de serem rejeitados e por isso sentem que precisam sempre contribuir, ou podem criar uma grande distância para com os outros por medo de incomodar e aí acabam ficando quietos pelo medo de fazer algo e ser rejeitado.

Codependentes têm dificuldade de se conectarem com o que sentem, e tendem a usar outras coisas para fugir de suas emoções. Usam os problemas dos outros para se ocuparem, usam diversas distrações, sem perceberem muitas vezes que nem gostam tanto assim do que fazem. As vezes não percebem o seu próprio gostar. Sentem que têm muitas obrigações e por isso não podem se dedicar ao que realmente gostam, mas a verdade é que muitas vezes eles nem sabem que coisas são essas ou sentem muita culpa por tentar fazer algo que os dê prazer.

Codependentes têm muitas necessidades que não se permitem olhar. Carências, medos, emoções não digeridas. Feridas profundas que muitas vezes estão bem escondidas. E pelo medo de serem ‘descobertos’, de serem mal vistos, de olhar para sua sombra, eles mantém uma certa distância nas suas relações, distância da real intimidade.



O que o codependente precisa é olhar para si. Com calma, se dar espaço e tempo para se reconhecer. Deixar as críticas e o julgamento de lado, se olhar com carinho e perceber que toda essa tendência de controlar, se responsabilizar pelo outros, não atrapalhar, resolver problemas, fazer tudo certo, ser produtivo e ser “boa pessoa” é na verdade algo que ele aprendeu láá atrás que era o que precisava ser e fazer para ser aceito. Era uma proteção. Mas hoje dá pra ser diferente e existem formas de ter relações mais saudáveis.

Resgatar a própria história, olhar pra ela, sem preconceito, reconhecer os sentimentos, as crenças, as faltas. Acolher. Ressignificar.

Há uma dificuldade em entender o real valor próprio. Pode-se creditar valor à algumas partes suas, mas outras podem ser tremendamente negadas e escondidas. Nisso segue uma vontade constante de se consertar, uma sensação de “tem algo errado comigo” e um buraco que tenta se preencher buscando aprovação e reconhecimento alheio.

Negação de sentimentos, emoções e necessidades leva à uma carência não percebida. O que pode gerar um vazio e uma necessidade de preenchimento de “não sei o que”. E aí segue uma eterna insatisfação e projeção de suas próprias necessidades em quem tá perto, sempre querendo ser olhado, ser afirmado. Essa carência pode ser externalizada ou velada, pois tem quem se coloca como autossuficiente, sempre com o foco em si mesmo.

Pegue leve consigo mesmo. Haverá recaídas e você sentirá a necessidade de controlar. De agradar, de “compreender”, de querer passar uma imagem de boazinha ou bonzinho. Ou então, de fingir que tá tudo bem contigo e que sua confiança é inabalável. Porque codependentes podem tender a passar uma imagem de muita segurança, como forma de proteção também.

Você pode voltar à tendência de negar seus reais sentimentos e pensamentos. De se criticar. E se criticar por ter se criticado. De mudar tudo para ontem e querer forçar ser uma pessoa totalmente diferente amanhã, fingindo que não se importa com coisas que te importam. E no outro dia essa capa vai desmoronar e você vai se julgar por não ter conseguido sustentar a máscara. Tá tudo bem. Se acolha mesmo quando você estiver fazendo totalmente o contrário do que é seu objetivo fazer. Se permita errar, desagradar e ser conhecida ou conhecido.

Recuperar-se da codependência tem a ver com tudo o que eu já falei ali em cima e também com aprender a colocar limites, com aproximar-se da sua vulnerabilidade, com descobrir o que gosta e fazer por você. Tem a ver com valorizar-se, com se cuidar, com aproveitar melhor o tempo e se organizar. Mas é tudo em baby steps, com olhos de curiosidade, amor e não julgamento. Porque você se alimentou disso por muito e agora tá na hora de mudar e descobrir o tanto de coisas boas que o outro lado tem a oferecer.



Tailane Sifuentes, é psicologa, atua em atendimento psicoterápico de adolescentes e adultos, individual, com base na Gestalt-Terapia. Já realizou palestras sobre educação psicológica e emocional, consultoria Institucional, dinâmicas para treinamento de Habilidades Sociais com jovens em reabilitação de dependência química e capacitação de funcionários do CRAS. e atende na Clínica Equiphe

CRP 06/132433



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