A pandemia tem revelados várias faces do ser humano. Muitas delas boas, ótimas, como a capacidade de se reinventar diante das dificuldades, e outras nem tanto. E nesse rol das faces ruins eu incluo a versão perversa do homem.
Para começar vamos nos balizar sobre o que é a perversão. Pelo básico, o significado da palavra, segundo o dicionário Houaiss, perverso é um adjetivo e substantivo masculino que define aquele que tem má índole, tem tendência a praticar a maldade. Na bíblia o justo e o perverso, ou o ímpio e o pecador, sempre são citados em oposição um ao outro, como em Provérbios 12.10. E na psicologia perversão é uma das três classificações básicas da personalidade humana, segundo a psicanálise além da neurose e a psicose. Perversos são aqueles que não aceitam as regras sociais, mas fingem muito bem segui-las.
Prosseguindo, com a falta de oportunidades de trabalho, desemprego aos milhões, gerado pela freada na economia global, pessoas partiram para um caminho perverso: estão praticando cada vez mais golpes pela internet. E um detalhe curioso: muitas mulheres envolvidas nesses golpes.
É verdade que esses golpes já existiam antes da pandemia, mas é visível o aumento e a engenhosidade deles. Chegando ao absurdo de o perverso se sentir ofendido quando confrontado.
Duas situações aconteceram na clínica em menos de 30 dias. Na primeira clonaram o whatsapp e começaram a pedir o pagamento através de Pix adiantado pelas consultas. A precisão era tamanha que quem disparava as mensagens sabia quem iria se consultar e com qual profissional. Assim, quando passavam a mensagem solicitando o pagamento antecipado, não seria muito estranho e plausível de crença.
A segunda tentativa de golpe foi mais “caprichada”: Uma mulher ligou na clínica se identificando como Aline Ferreira e se dizendo da 4ª Vara Federal. Ela queria falar com a proprietária, que estava em atendimento. A tal Aline disse que a clínica ficaria sem energia a partir das 15h30 e não seria possível fazer a religação por 11 dias ou até que pagassem uma multa enorme. O pessoal da clínica que atendeu a ligação anotou o número - 4003-5521 - e o recado. Outra funcionária, já escaldada com o golpe anterior, desconfiou e resolveu checar aquele número de telefone usando o Google. E voilà, na primeiríssima posição do buscador apareceu uma reportagem sobre golpe do padrão de luz, descrevendo como essas pessoas agiam, exatamente igual: ligando para as empresas se fazendo passar por agentes de uma 4ª Vara Federal e que iriam retirar o relógio e o poste de energia, pois estava irregular, etc, etc, etc.
Depois de ler a matéria essa funcionária da clínica resolveu ligar para o telefone da suposta 4ª Vara Federal e pediu para falar com a não menos suposta agente Aline Ferreira, que não a atendeu pois a “secretária” disse que estava ocupada, mas retornou a ligação em seguida. Questionada sobre a razão da falta de energia na clínica Aline disse era porque o poste e o relógio de força estavam irregulares. A funcionária ouviu pacientemente a ladainha da golpista e no final disse que sabia se tratar de um golpe pois tinha lido a reportagem na internet. Foi aí que a tal agente Aline, num tom de voz indignado, surpreso, disparou: “então porque você se deu ao trabalho de me retornar sua vaca”, além proferir outros despautérios para em seguida bater o telefone.
O detalhe é que o número usado nessa tentativa de golpe é o mesmo usado em outros por todo o país. Uma pesquisa no Google aponta ser proveniente da operadora TIM ou foi espelhado, que é mais provável. É a ousadia da perversão digital.
Para evitar o surgimento de novas vítimas, lembre-se que a CPFL cobra todas as taxas de serviço através da conta de luz. Além disso, os cortes de energia só são realizados 15 dias após o aviso da CPFL de que a unidade consumidora está inadimplente. Estes avisos estão sendo feitos por e-mail, SMS e nas faturas de energia. Ainda no site ou no aplicativo da companhia é possível consultar débitos e obter segunda via ou código de barras para pagamento.
Na dúvida, o consumidor deve entrar em contato (0800 721 1701) para confirmar se há algum serviço a ser realizado no seu endereço e se há algum problema no registro de energia. Se o consumidor suspeitar de que pode estar sendo vítima de um golpe, deve avisar imediatamente a Polícia.
De tudo isso fica a lição, de estar sempre alerta a qualquer coisa que soe estranho. A Justiça não liga, manda um oficial a sua porta, assim como a polícia.
Jair Italiani é jornalista e especialista em marketing, produtor de conteúdo da Clínica Equiphe.
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