Segundo a especialista em audição Débora Glay, geralmente ouvir música é conhecido como uma situação de prazer, algo agradável para os ouvidos. Entretanto quando tocada em elevada intensidade, pode tornar-se uma fonte de poluição sonora e ser prejudicial à audição humana1,2.
Os aparelhos estereofônicos individuais revolucionaram a forma de ouvir música. Por serem práticos e portáteis, se tornaram acessórios indispensáveis e de uso abusivo na vida das pessoas3. Nos últimos anos, tem sido observado um aumento acentuado na acessibilidade e popularidade dos estéreos pessoais, principalmente entre os jovens, muitas vezes, utilizados por longo período de exposição e alta intensidade que pode chegar a 120 decibéis diretamente ao tímpano, a mesma potência da turbina de um avião na decolagem, causando perdas irreversíveis da audição. A facilidade em acessar a internet, realizar “download”, formato de compactação dos aparelhos estéreos, ampla qualidade dos aparelhos e dos fones de ouvido, também aumentou, proporcionando maiores níveis de volumes e melhora na qualidade do som, levando o usuário a utilização inadequada dos mesmos4,5.
O aumento deste hábito moderno tem despertado aos pesquisadores interesses para estudar sobre o impacto negativo que este aparelho causa sobre a audição, pois se sabe que indivíduos que ouvem som alto em longo prazo podem adquirir danos à saúde auditiva. Existem outros aspectos preocupantes que fazem com que esses equipamentos modernos prejudiquem a audição, como a capacidade de memória, alta durabilidade da bateria e o design dos fones, cuja tendência atual é os fones de inserção devido à grande capacidade de concentrar a energia sonora produzida dentro do conduto auditivo externo, caracterizando o modelo de alta contribuição para lesão do sistema auditivo3.
A audição é uma das principais vias pelas qual o ser humano se relaciona com o meio externo, exerce função complexa e primordial na comunicação humana. É por meio do sistema auditivo que ouvimos e identificamos todos os diversos sons do ambiente. Lesões nas estruturas sensoriais da audição provocam déficit na detecção, localização e discriminação dos sons3. A Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevada (PAINPSE) é uma das doenças mais prevalentes nos dias atuais, sendo caracterizada pela diminuição gradual da acuidade auditiva decorrente da exposição continuada a nível intenso de pressão sonora acima de 85 dB, podendo ocasionar lesão nas células ciliadas externas e internas no órgão de Corti, na orelha interna6.
O agravante para este tema, é que os indivíduos expostos a altas intensidades sonoras são na maioria a classe jovem, pois antes de iniciarem as fases produtivas de suas vidas, podem apresentar deficiência auditiva, abrindo-se a seguinte discussão: estariam nossos jovens expostos a riscos de lesão auditiva ao usarem equipamentos eletrônicos sonoros? Os limiares auditivos dessa classe jovem estariam modificando em virtude a exposição de altas intensidades de uso diário?7.
O avanço tecnológico vem contribuindo para a desejada facilitação da vida moderna e traz consigo elementos danosos ao organismo. O ruído é um dos agentes físicos resultantes dessas alterações ambientais, que ocorrem no âmbito do trabalho, transportes, lazer e do convívio humano em geral, pois pode desencadear diversos sintomas como: intolerância a sons intensos, tontura, otalgia perda auditiva e zumbido9. Pesquisa desenvolvida por diversos autores tem apresentada diversa preocupações referentes aos efeitos não auditivos, pois além dos danos específicos da audição, entre estes o zumbido, destacam-se alterações referentes à comunicação, cardiovasculares, química sanguínea, vestibulares, digestivas, comportamentais e psicossociais10.
Há grandes preocupações com o zumbido, devido ser o terceiro pior sintoma para o ser humano, pois produz extremo desconforto, difícil caracterização e tratamento, e de acordo com sua gravidade pode excluir os acometidos do convívio social, acelerando o processo de adoecer e levar até ao suicídio11,12.
As frequências capazes de realizar a captação dos sons agudos (3 a 6 Hz) são mais frágeis, pois em muitos casos a perda auditiva lesiona primeiramente a percepção dos agudos, sendo essa característica relatada na literatura como PAINPSE (perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora), sensório- neural, geralmente bilateral, simétrica e irreversível 13,14,15.Quando ocorre as lesões nas frequências baixa, geralmente ocorre de grau leve, sendo que nas frequências altas pode ocorrer lesão de grau severo, com configuração audiométrica ( entalhe em V) na faixa de frequências de 6,4 e /ou 3Hz, que progride lentamente nas frequências de 8, 2, 1, 500 e 250 Hz. A perda auditiva nas frequências mais altas atinge seu pico máximo no período de 10 a 15 anos de exposição estável em nível de pressão sonora (NPS) elevados, uma vez cessados a exposição estabiliza a progressão16,17.
Para avaliar os danos causados pelo ruído é utilizado o exame de audiometria tonal, método universalmente realizado na determinação dos limiares de audibilidade18. Esta avaliação também é sugerida pela Portaria número 19 do Ministério do trabalho, entretanto é um teste passível de erros, uma vez que depende das respostas do sujeito sob avaliação e sua baixa sensibilidade para detectar alterações cocleares que ocorrem antes do aparecimento das alterações no audiograma13.
Para a realização do diagnóstico diferencial é avaliada a configuração dos audiogramas (perda sensorioneural, bilateral, predominantemente nas frequências de 3,4 ou 6 KHz) e exposição habitual ao ruído19.
O impacto negativo do uso inadequado desses equipamentos sobre a audição, sem dúvida pertence ao campo da saúde pública. Devido os equipamentos portáteis individuais alcançar cada vez mais cedo as mãos e ouvidos dos jovens, torna-se evidente a necessidade da implantação precoce de ações educativas desde o ensino fundamental para amenizar o impacto que a falta de informação atribui,20,21.
Nos últimos anos tem aumentado à preocupação quanto ao diagnóstico precoce da PAINPSE. Essa preocupação pode estar relacionada com o fato de ser uma doença silenciosa e que se instala ao longo do tempo22.
Para avaliar o sistema auditivo é importante procurar um profissional especializado, o médico otorrino e um fonoaudiólogo especialista no sistema auditivo.
E lembre-se a audição é uma das principais vias pelo qual o ser humano se relaciona com o meio externo.
REFERÊNCIAS
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2- Ventura CT, Fiorini AC. Música amplificada: uma revisão sobre seus efeitos na saúde.In:XVIII Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia. Anais; 2009. Salvador (BA); 21 A 24 de outubro. p.2698.
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4- Figueiredo RR, Azevedo AA, Oliveira P M. et al. Incidência de zumbido em usuários de estéreos pessoais[serie online]. 2011 Mai- Jun [Acesso em 01 Fev 2015]; Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-86942011000300004&script=sci_arttext&tlng=pt
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6- Boger ME, Branco AB, Ottoni AC. A influência do espectro de ruído na prevalência de perda auditiva induzida por ruído em trabalhadores [serie online]. 2009 Mai- Jun [Acesso em 05 Mar 2015]; Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-86942009000300003&script=sci_arttext&tlng=pt
7- Junior JJJ, Alegre ACM, Greco, MC Angelini MCA, et al. Hábitos e limiares auditivos à música eletronicamente amplificada através de equipamentos com fones de ouvido[serie online].1996 Set – Out [Acesso em 03 Fev 2015]; Disponível em :http://oldfiles.bjorl.org/conteudo/acervo/acervo.asp?id=2249
8- Russo, ICAP, Santos, TMMA. A prática de Audiologia clínica [serie online]. 2011 [Acesso em 27 Mar 2015]; Disponível em: http://www.ufrgs.br/napead/repositorio/objetos/avaliacao-audiologica/audiotonal.php
9- Frota S, Iório MCM. Emissões otoacústicas por produto de distorção e audiometria tonal limiar: estudo da mudança do limiar.[serie online].2002 Jan-Fev[ Acesso em 20 Mar 2016]; Disponível em : http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-72992002000100003&script=sci_abstract&tlng=pt
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11- Dias A, Cordeiro R, Corrente J E. Incômodo causado pelo zumbido medido pelo Questionário de Gravidade do Zumbido [serie online]. 2006 Ag 2006 [Acesso em 15 de Março 2016]; Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102006000500022
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13- Barcelos D D, Dazzi N S. Efeitos do MP3 Player na Audição [serie online] 2014 Mai-Jun[Acesso em 15 Maio 2015]; Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-18462014000300779
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